domingo, 15 de novembro de 2009

Autopsicografia -- Fernando Pessoa

AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.



"1ª Estrofe"

O primeiro verso contém a ideia fundamental do poema, "o poeta é um fingidor", que, logo a seguir, é explicado por meio de uma particularização centrada na dor.
A poesia não está na dor sentida, mas no fingimento dela. Isto é, a dor sentida, a dor real, para se elevar ao plano da arte, tem de ser fingida, imaginada, tem de ser expressa em linguagem poética, o poeta tem que partir da dor real, a dor que deveras sente.

"2 Estrofe"

Na segunda parte do poema, o poeta alude a fruição artística da parte do leitor, nela não sente a dor real (inicial), que o poeta sentiu, nem a dor imaginária que o poeta imaginou, nem a dor que eles (leitores) têm, mas só a que eles não têm. Isto é, o que o leitor sente é uma quarta dor que se liberta do poema, que é interpretado á maneira de cada leitor.
Na segunda estrofe há referência a quatro dores: a dor sentida (real), a dor fingida pelo poeta, a dor real do leitor e a dor lida (dor intelectualizada que provém da interpretação do leitor)

"3ª Estrofe"

A terceira parte do poema, como a própria expressão "E assim" prenuncia, constitui uma espécie de conclusão: o coração (símbolo da sensibilidade) é um comboio de corda sempre a girar nas calhas da roda (que o destino fatalmente traçou) para entreter a razão. São aqui marcados os dois pólos em que se processa a criação do poema: o coração (as sensações de onde o poema nasce) e a razão (a imaginação onde o poema é inventado).

Características Gerais

Linguagem metafórica, emq ue estabele a ligação entre o coração (sentimento) e um brinquedo
("comboio de corda"), o poeta diz que o sentir ilude a razão, o pensar, como se o processo de criação também fosse um jogo.
A construção estrófica em quadras e o metro em redondilha maior configuram claramente o gosto do autor pelo folcloórico e popular.
O esquema de rimas apresentado em cada estrofe é um dos mais singelos: ABAB, ABAB, ABAB - rimas alternadas, sem lapso algum do preciosismo, pelo contrário, visto serem as rimas, qaunto ao vocabulário, ricas e pobres. Há uma total inexistência, portanto, de raras, ou preciosas.








Grupo:
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