segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Libertinagem



Libertinagem, de Manuel Bandeira



Resumo
Publicado em 1930, Libertinagem constitui o primeiro livro

inteiramente modernista de Manuel Bandeira, e é seu quarto livro de poemas. É uma sucessão de poemas espantosos, cheios de novidade, humor, erotismo, refinamento musical, força de imagens – tudo isso produzindo uma intensidade emocional que, às vezes, aproxima-se do piegas, mas nunca cai nele.

É notória sobretudo a renovação da linguagem, neste livro. Numa fuga à expressão "poética", ao "belo" tradicional, Manuel Bandeira explora os veios da fala cotidiana, coloquial e popular usando um "prosismo poético". Tira poema de notícia de jornal, de frases de todo dia.

Com esse material traduz as dores do mundo, a vida e a morte, não na dolência ou balanceio da poesia habitual, mas numa secura e por vezes num "humor que ostenta a rara qualidade de ser ao mesmo tempo trágico". Exemplos citados são Pneumotórax e Poema Tirado de uma Notícia de Jornal, entre outros.

A essa orientação coloquial-irônica pertence também a Balada das Três Mulheres do Sabonete Araxá, escrita pelo poeta depois de ter visto um cartaz do dito sabonete. Neste como em outros poemas, vê-se a intenção de poetar o prosaico, o insignificante - atitude típica do Modernismo e da arte bandeiriana.

Personalista, a poesia de Manuel Bandeira assemelha-se a uma espécie de diário íntimo em que os acontecimentos do mundo se refletem nas imagens da vida íntima e pessoal, como se a expressão poética resultasse da soma entre a confidência e a notação exterior, a contemplação da realidade, numa atitude de estranheza do poeta em relação ao mundo. Surge aí a força humanizadora de sua poesia, marcada por intensa paixão pela vida e por ardente ternura. Tal atitude não pressupõe o sentimentalismo fácil; ao contrário, deplora-o através do despojamento, da simplicidade e da reflexão. Reveste-a o tom irônico e tantas vezes amargo de seus poemas, em que se destacam ainda temas como o tédio, a melancolia; o amor, o erotismo; a solidão, a angústia existencial; o popular e o folclórico; a fuga do espaço, o escapismo.

Seguindo Ritmo Dissoluto, o livro contém trinta e oito poemas escritos entre 1924 e 1930; na maioria deles, podemos observar a intenção do poeta de romper com as formas tradicionais, acadêmicas e passadistas. Esta tem sido considerada a obra mais vanguardista de Manuel Bandeira, aquela em ele praticou mais livremente a própria liberdade formal, valendo-se de versos e estrofação irregulares e abandonando a rima, além de empregar largamente o coloquial, numa atitude inequivocamente antiformalista. Exemplos claros são Poética, verdadeira profissão de fé modernista, e Poema Tirado de Uma Notícia de Jornal.

Alguns dos poemas mais famosos de Bandeira fazem parte deste livro: Pneumotórax, cena de humor negro envolvendo um tuberculoso e um médico infame; Pensão familiar, cena do cotidiano de uma “pensãozinha burguesa”, com o inesquecível gatinho que “faz pipi” e “encobre cuidadosamente a mijadinha” – “a única criatura fina da pensãozinha burguesa”; Profundamente, um dos grandes poemas da morte deste grande poeta da morte, e, talvez o mais célebre de seus poemas, Vou-me embora pra Pasárgada, deliciosa utopia que apresenta a fantasia de um país em que todos os desejos se satisfazem, especialmente os desejos sexuais:

“Vou-me embora prá Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora prá Pasárgada” (...)


Tematicamente, o livro percorre as linhas-mestras abordadas por Manuel Bandeira, que são: lidar com o aspecto autobiográfico, tratado ora melancolicamente: Não sei dançar, Andorinha e Profundamente; ora ironicamente: Pneumotórax; ou ocasionalmente: Vou-me embora pra Pasárgada, como já observado. Preocupa-se com assuntos extraídos do dia-a-dia, como em Irene no Céu e Poema tirado de uma notícia de jornal, ou ainda com o transcrever de experiências poéticas, com preocupações de definição da poesia, como está exemplificado em Poética, considerada a profissão de fé da estética modernista.

Com a mesma melancolia das passagens autobiográficas, acrescida de um saudosismo tristonho e quase romântico, são evocadas paisagens antigas (Evocação do Recife) ou paisagens que entram na vida do escritor mais recentemente (Mangue). Sem dúvida, o mais profundo poema de Manuel Bandeira é, de certa forma, o hino de seu sentimentalismo, O último poema, que encerra o próprio sentido de poesia do escritor:

"Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse tenro dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicídios que se matam sem explicação."


A principal característica da obra de Bandeira é, sem sobra de dúvidas, o emprego do verso livre. No entanto, isso não significa que Bandeira não fizesse uso das formas fixas. Nas suas últimas obras ele utilizou-se muito da forma mais clássica de todas: o soneto.

Os versos livres de Bandeira sempre foram escritos sem preocupações. Ele não gostava de modificar nada. Até mesmo, segundo o próprio poeta, o poema Vou me embora para Pasárgada foi escrito dessa forma: "Saiu sem esforço, como se estivesse pronta dentro de mim"

Os principais temas de seus poemas foram: solidão, dor e o medo da morte. O cotidiano de Santa Tereza, local

onde morava, era constantemente transformado em crônicas.


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